Por Arthur Dutra
Neste 2017, um fato histórico completa 200 anos: a Revolução Pernambucana
de 1817. O Rio Grande do Norte tomou parte ativa no evento, seja aqui mesmo, nas
terras potiguares, através da ação de André de Albuquerque Maranhão,
Senhor de Cunhaú; seja por meio de um natalense ilustre que foi protagonista dos acontecimentos revolucionários no Recife. E este cidadão - um sacerdote da Igreja - atendia pelo nome de Miguel Joaquim de Almeida Castro, o Padre Miguelinho.
Partitura do Hino a Miguelinho |
Por ter
empenhado sua honra em cada momento da Revolução, Padre Miguelinho é justamente
homenageado pela História e também em alguns lugares bem conhecidos de Natal,
sua terra de nascimento. Padre Miguelinho dá nome a uma importante escola estadual situada no Alecrim, a uma
Loja Maçônica e ao prédio da Câmara Municipal de Natal, além de ser o único
potiguar citado no Hino do Rio Grande do Norte.
Professor de retórica do Seminário de Olinda
e Secretário Geral do Governo Provisório estabelecido em Pernambuco, Padre
Miguelinho contribuiu com sua erudição, sabedoria e ideais de liberdade para o
movimento que tinha por objetivo estabelecer uma terra livre e independente,
sediada no atual Nordeste brasileiro. Do início vitorioso ao fim derrotado, Padre
Miguelinho portou-se com toda dignidade. Quando havia animosidade do povo com
os portugueses, Miguelinho buscou a pacificação para que a nova pátria surgisse
sob o signo da comunhão entre brasileiros e estrangeiros. Na famosa
"Proclamação ao povo", divulgada logo após a nomeação do Governo
Provisório em 8 de março de 1817, coube a Padre Miguelinho fazer o anúncio
oficial, que terminava dizendo que "A Pátria é a nossa mãe comum, vós sois seus filhos,
sois descendentes dos valorosos lusos, sois portugueses, sois americanos, sois
brasileiros, sois pernambucanos".
Caindo a Revolução depois da reação da Coroa portuguesa, os líderes do
movimento foram presos e enviados para serem julgados na Bahia. Dentre os
presos estava Padre Miguelinho, que antes de ser levado acorrentado conseguiu,
junto com sua irmã Clara Castro, queimar uma grande quantidade de papéis que incriminavam
muitos dos seus companheiros, livrando-os da morte. No julgamento, porém, havia
boa vontade por parte do tribunal, apesar da grave acusação de crime de
lesa-majesta, cuja pena era o fuzilamento. Mesmo assim, Padre Miguelinho manteve-se
em silêncio, recusando-se a se defender, tamanha era a convicção com que havia
tomado parte no levante. Então o juiz, na real intenção de salvar a vida de
Miguelinho, indagou se por acaso as assinaturas nos papéis que o denunciavam não poderiam ter sido falsificadas por algum inimigo a fim de prejudicá-lo.
Padre Miguelinho se levantou, apontou para os papéis e, com a cabeça erguida,
disse que as assinaturas eram autênticas, e que numa delas a última letra do
seu nome tinha saído pela metade pois havia acabado o papel. Sem mais ter o que
oferecer para livrá-lo da condenação, o tribunal mandou Padre Miguelinho para o pelotão de fuzilamento.
"Julgamento do Padre Miguelinho", tela de Antônio Parreiras. |
Com seu exemplo de coragem, dignidade e civismo em prol da liberdade, Padre
Miguelinho deve ter a memória reverenciada não só neste Bicentenário da
Revolução de 1817, mas ser permanentemente colocado no lugar de destaque no rol
daqueles norte riograndenses que deixaram o exemplo luminoso de qual é o papel e a postura do
homem que toma a dianteira dos grandes acontecimentos de cada tempo.